31 de outubro de 2019

MEU CORAÇÃO NÃO SOSSEGA DE AMAR


Meu coração não sossega de amar
Amou desde a primeira infância
A começar a família
Minhas colegas de escola primária
E a minha escola
Amou a minha vila natal
Amou as tardes de sol poente
E os dias de tempestade
Amou a colheita da cana
Que passava nos caminhões pelas ruas de paralelepípedo
Amou as festas juninas
As quadrilhas marcadas pelo seu Alcino
Amou reconditamente depois
Algumas colegas do ginásio e do científico
Amou o isso e o aquilo
E o Botafogo acima do impossível
A nossa língua no que tem de dizível e indizível
E continuou amando desmedidamente
Absurdamente amou
Até que amou demais
E aportou no conforto de um amor maduro
Da mulher a que se ama
E continuou amando os filhos que tive
Os trabalhos que fiz
Os amigos e vastos alunos durante anos
E agora
Quando deveria descansar de tanto amar
Ama desbragadamente meus netos.

Quando é que há de parar de amar, coração agônico?
É mais nunca!
Responde-me ele lá do fundo do peito
No descompasso pulsante de cada amor candente.

Museu de Arte Contemporânea de Niterói, ao pôr do sol (foto do autor).


2 comentários:

  1. Quem tem um coração como o Saint-Clair, nunca deixa de amar... O amor dá-lhe vida.
    Bonita poesia.

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