4 de setembro de 2018

O CAPITÃO E SEUS MARES BRAVIOS

(À memória de meu pai.)

Viajar
Romper estradas
Varar mares e oceanos
Desfraldar velas
Desbravar continentes
Do quarto à sala
Da sala à cozinha
Da cozinha ao quintal
Onde à tardinha sentar-se à cadeira
O tronco desnudo
A bermuda folgada
Os chinelos velhos
E sentir a brisa da tarde
O voo das aves em busca do pouso noturno
Assuntar o tempo prever a chuva
Pelo movimento das nuvens no alto do céu
Ou estar à varanda perscrutando o bulício da rua
O vaivém de gente bicho e viatura
Adentrar a casa
Sorver o café com leite bem açucarado
Tomar a solda
Tornar à sala
Ir para o quarto
E assim viajar por todo o lado
Da casa simples que habita

Eis meu pai ainda em vida
Toda ela passada por um fio
O capitão e seus mares bravios.

Veleiro na Baía de Guanabara (foto do autor).


6 comentários: