(Para Daisy e Alfredo Moreirinhas.)
As
amizades às vezes são inexplicáveis. Dizem que escolhemos os amigos. Ou, quem
sabe, os amigos nos escolhem. Tenho dois grandes amigos, que sempre uso como
exemplo, os quais encontrei durante os tempos de faculdade. São o Eduardo
Campos e o Rogério Andrade (Coloquei em ordem alfabética apenas para não me
comprometer, e pensarem que gosto mais de um do que de outro.). Eles não eram
da minha turma. Rogério nem mesmo era do mesmo turno. E ambos, teoricamente,
faziam parte de um grupo “antagônico”: cursavam Inglês. Eu fazia Francês. E
isso já era motivo para rivalidade. A Guerra dos Cem Anos, com maior ou menor
intensidade, perdura até hoje.
Tenho
outros tantos amigos que fiz ao longo da vida, desde minha vilazinha querida de
Carabuçu, lá no norte do Rio de Janeiro, até este instante da existência. E não
vou citá-los, para não tornar maçante este texto despretensioso.
Mas
hoje quero destacar uma dessas amizades que a modernidade, ou antes, a
tecnologia nos permite e tem data completa de nascimento.
Em 8
de novembro de 2010, postei no blog Asfalto&Mato poema que havia feito na
década de setenta, motivado pela viagem empreendida com a Jane, tão logo nos
casamos, e os amigos citados acima. O poema tem como título Telhados de Cuzco e faz parte de uma
série a que dei nome de Apontamentos de
viagem. A fim de ilustrá-lo, busquei na internet uma foto que retratasse os
famosos telhados da cidade peruana que nos dá acesso à emblemática Machu
Picchu. Eu mesmo havia feito uma, que não consegui encontrar entre as centenas
de antigas fotos impressas.
Após
alguns minutos de pesquisa, encontrei foto semelhante à que fizera, após ter
subido num degrau ao lado do tanque localizado numa área externa, nos fundos do
hotel. A foto era do fotógrafo lusitano Alfredo Moreirinhas. Escrevi para ele,
solicitando autorização e enviando o texto que sua foto ilustraria. De
imediato, ele autorizou, e eu postei o poema. Nos comentários que então fizemos,
tivemos a sensação de ter-nos hospedado no mesmo local. E tais comentários foram
o gatilho para o surgimento de uma amizade virtual.
Passados
esses anos, e desde então, temos mantido com alguma regularidade diálogos
rápidos pelas redes sociais, por conta dos meus blogs e do seu, o excelente Travel with Us, em que ele e sua esposa
Daisy contam suas muitas viagens mundo afora, recheadas pelas maravilhosas fotos
que as ilustram.
Não
faltaram convites para que fôssemos visita-los, até com generosa oferta, além
de hospedagem, de carro à disposição, bacalhau dos deuses e vinhos capitosos:
Moreirinhas a nos seduzir com seu canto lusitano, aquele mesmo e ancestral
canto que iludiu até o inexpugnável Gigante Adamastor, lá pelos idos de mil,
quatrocentos e qualquer coisa. A história fez seu registro, e Camões o cantou
em versos perfeitos.
Pois,
finalmente, agora neste escorrido mês de agosto, na viagem com os primos
Roberto Assis e Paulo Mattos, mais suas esposas, por terras de Portugal,
digitamos no GPS do carro alugado o endereço dos nossos amigos virtuais: Rua da
Cacieira. O complemento veio pelo Messenger: após passar o Café Tulipa Negra,
na segunda rua à esquerda, a última casa à esquerda. As orientações nos levaram
até lá.
Tão
logo estacionamos o carro, fomos efusivamente recebidos por Daisy e Alfredo,
que do alto da varanda do segundo andar exclamaram um “até que enfim!”, a dar
fecho a oito anos de intervalo entre a primeira mensagem e aquele instante.
Pareceu
que éramos velhos amigos, que apenas não se viam havia algum tempo!
Os
abraços foram tipo quebra-costela; a alegria, total. Os amigos se prepararam
para que passássemos uns dias com eles, o que não foi possível, em virtude da
programação da viagem feita em conjunto com os outros parceiros de aventuras.
Mas eles fizeram questão de nos mostrar o quarto preparado, a casa aberta, a
hospitalidade lusitana.
Após
conhecer a aconchegante casa de Daisy e Alfredo, repleta de belas obras de arte
e recordações de suas muitas viagens, ainda fomos brindados com um passeio por
Aveiro, linda cidade postada junto ao Atlântico e famosa por sua ria e seus
ovos moles, que traduzem em paladar a gostosura deste pedaço de Portugal.
Como
que para selar a amizade de modo inesquecível, Daisy e Alfredo nos ofereceram
um almoço dos deuses: bacalhau de natas e bacalhau na telha, em um dos bons
restaurantes da cidade, regado a vinho branco (Tudo dentro do limite de
tolerância das leis portuguesas, quanto à direção de veículos.)
E,
desta forma, conseguimos materializar uma amizade nascida há oito anos, via
Internet, com abraços, beijinhos, ovos moles, vinhos, cachaça, sabonetes, que
trocamos para marcar a importância do encontro.
As
amizades podem surgir de qualquer forma e por qualquer meio. É preciso apenas
cultivá-las!
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Alfredo Roque Gameiro (1864-1935), A frota de Cabral ao sair do Tejo (em tribop.pt). |
Só desejo que esta amizade passe a ser mais presencial.
ResponderExcluirO malvado Oceano Atlântico é grande, mas a nossa amizade é bem maior.
Foi um grande prazer conhecer o Saint-Clair e sua querida Jane.
Sois um casal encantador, conversadores brilhantes e conhecendo-vos sentimos um enorme orgulho em ser vossos amigos e sentir a vossa amizade.
Obrigado Saint-Clair e Jane pela vossa visita e vamos repetir,,,
O mesmo sentimos ao conhecer vocês. Não faltará oportunidade para novos reencontros, malgrado o Atlântico. Nossa casa está aberta. Abraços!
ExcluirDa varanda expressámos o que nos ía na alma! Como foi bom abraçar-vos!...
ResponderExcluirVoltem quando quiserem!
Foi emocionante a receptção, Daisy! E todo o resto, então, nem se fala. Abraços!
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