9 de janeiro de 2016

SACRIFICANDO BICHOS, MATANDO PLANTAS


Lêmure da cauda anelada, quisquilhaneto de nosso possível ancestral, conforme as mais loucas teorias (pt.wikipedia.org).

A quase ditadura do politicamente correto, que, muita vez, não deixa margem à contradição está também presente na área da alimentação, com inúmeras correntes que propugnam por hábitos alimentares os mais diversos.

Há os que se recusam a comer carne, por exemplo, com argumentos sinceros sobre o sacrifício que se impõe aos animais, que acabam por chegar esquartejados às nossas mesas.

Para também ser sincero, eu como carne desde o homo sapiens, quiçá desde o australopithecus, se não for antes, desde os lêmures que se penduravam nas árvores do continente africano, na Gondwana, na Pangeia, sabe-se lá onde.

Entretanto há muitas pessoas por esse mundão afora que se recusam a comer qualquer animal, mesmo que seja um mosquitinho esvoaçante que, desavisado, entre em suas bocas, como fazem os jainistas. Estes, ao saírem às ruas, cobrem a boca com uma máscara, a fim de que nem mesmo uma muriçoca distraída lhes entre goela adentro e eles sejam constrangidos a comê-la. Consideram eles, coerentemente com sua crença religiosa, homens e animais semelhantes, portanto merecedores do reconhecimento da condição de iguais, de irmãos. Já com as plantas em geral - frutas, legumes, cereais e vegetais -, não têm tanta consideração e mandam ver: comem-nas cruas e cozidas, em saladas, em refogados, salteadas, sós e acompanhadas. Coitadas, por que não merecem elas o mesmo status?!

Na minha descrença generalizada, julgo mais grave que matar uma galinha para comer, é dizimar um canteiro de singelas hortaliças, que nem com o recurso da fuga foram brindadas pela natureza. Elas são as nossas vítimas mais indefesas, porque imóveis.

Ora, senhores, se toda a natureza se faz na base da cadeia alimentar, uns comendo os outros, e nós, seres desumanos, inseridos nesta mesma cadeia e sendo quem somos, comemos todas as outras criaturinhas sem culpas, constrangimentos ou preferências: rastejou, nadou, andou, voou ou simplesmente se balançou ao vento e à brisa, nós podemos comer, segundo nossos hábitos e costumes.

Ser vivo come ser vivo. E, de mais a mais, tudo tem vida. Até mesmo o granito mais duro. Só que aí a vida se conta em bilhões de anos.

Então, não entendo muito bem as campanhas contra a picanha e a costeleta, se não as há contra os brócolis e a alface, o maxixe e a beldroega.

Acaso estes últimos não experimentam algum tipo de sofrimento ao serem cortados? Só dói, se sangra, berra ou esperneia? Os sem voz e sem ação – todos os seres do reino vegetal – merecem muito mais nossa solidariedade, que um boi que nos pode chifrar, ou uma galinha que nos pode bicar. Acidentam-se muito mais humanos com seus semelhantes-bichos do que com seus semelhantes-plantas. Muito raramente um pé de pau cai em cima de alguém. É bem mais comum levarmos uma chifrada e uma mordida, que termos a cabeça rachada por um galho de árvore despencado. 

----------
Publicado originalmente em Gritos&Bochichos, em 6/9/2011.


2 comentários:

  1. Só penso que com o passar do tempo, o fato de nossos dentes perderem o vigor (ou simplesmente sumirem) apenas uma sopinha de letra pode esquentar nosso estomago.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Certamente, Paulo Laurindo! Enquanto isto não ocorre, continuemos a usar o direito de mastigar. Hahaha!

      Excluir