Corria o último dia vinte e dois agosto um tanto sorumbático.
Estava eu em
Nova Friburgo, acompanhado da Jane, para o velório do irmão de um grande amigo.
Eram exatamente 12h40, quando o celular, em modo mudo, pois já estávamos na
cerimônia, vibrou anunciando mensagem do Whatsapp. Era o amigo José Antônio
Lahud, diretamente da capital federal, em mensagem de voz – voz tentando
disfarçar preocupação –, a me indagar:
-
Saint-Clair, está tudo bem com você?
Ora, uma
pergunta dessas, de um amigo distante com quem falo frequentemente, a fingir
tranquilidade na voz, só pode ser sinal de alguma coisa errada. Respondi que
sim, embora estivesse num velório. E quis saber dele o motivo da indagação:
- Está tudo
bem comigo, tudo certinho. O que é que houve? Ouviu falar mal de mim, que eu
morri, que eu bati as botas?
Ele então
esclareceu que houve um ruído de comunicação, desde Bom Jesus do Itabapoana,
minha terra natal, porque o amigo comum Luís Maiato entrara em contado com a
notícia do meu passamento, desencarne, sublimação, ou o que quer que seja que
indica que eu tivesse abotoado o paletó. Embora estivesse num velório, estava
como amigo do morto, e não como morto, e gozando de plena saúde (Ou nem tanto.
Alguém já beirando os oitenta não pode ficar ostentando plena saúde, porque até
pega mal para uns e outros aí com azia e má digestão. Fora umas taxas suspeitas
e uma artrose no joelho a aporrinhar a marcha.)
Dois dias
após, ligo para minha irmã Elizabeth, a fim de confirmar dados de um passeio a
Belo Horizonte, marcado para 21 de novembro próximo. Veja que tenho expectativa
de vida até o final de novembro. Não posso fazer o falsete de sucumbir, já que
as despesas estão todas programadas no cartão de crédito até quase o ano que
vem. Depois do assunto principal, ela resolveu tocar no tema da minha presunta
morte (para usar um adjetivo espanhol que se adequa à situação), dizendo que
nosso amigo Pitota Silveira queria esclarecer a confusão em torno do meu
passamento, uma vez que ele, em conversa com ela, percebera sua tranquilidade.
Ora, a Beth saberia antes de mim, se o irmão tivesse falecido, foi o que acertadamente
pensou o Pitota.
Em 29 de
agosto, Pitota me solicita o número do celular, para esclarecer que correra em
Bom Jesus a notícia da morte de um meu xará fonético, mas não ortográfico, Sancler
Gomes, e isso acabou chegando aos ouvidos de queridos amigos que, muito
simpaticamente, ficaram preocupados com minha saúde.
Ri da
história e já havia até esquecido que morrera por pouco tempo, quando, nesta
semana, encontro a amiga Ana Elisa Figueiredo, conterrânea e contemporânea de
bancos escolares no Colégio Coronel Antônio Honório, em Bom Jesus do Norte,
cidade-irmã de Bom Jesus do Itabapoana.
Ela também tivera
notícia do meu desviver pela Marleide Silveira, também nossa antiga colega de
escola e irmã do Pitota. Ana Elisa, inclusive, recebeu mensagem com a
comunicação do velório e tentou tranquilizar a Leda, como a chamávamos à época,
dizendo que não era eu, que meu nome era Saint-Clair Machado, ao que a amiga
retrucou que eu poderia também ter Gomes no sobrenome. Ana Elisa não se
lembrava de meu último sobrenome, mas tinha certeza de que não era Gomes. E,
para deixar claro que não era eu o defunto, afirmou:
- O
Saint-Clair tem o nome chique, em francês. E, além disso, está muito bem,
porque me encontro sempre com ele aqui em Niterói.
Contudo,
penso eu, para morrer basta estar vivo. E para meu conforto e sorte, Ana Elisa
foi muito otimista com a minha pessoa física e fiscal. Vai que eu tivesse de
fato morrido? É que, embora não tenha Gomes como sobrenome, sou parte desta
família. Minha avó era Julinda Gomes Machado, assim como minha mãe, até se
casar com meu pai: Maria José Gomes Machado.
Como vê o
prezado leitor, estive morto para alguns amigos por um breve instante, mas fui
resgatado das garras da Indesejada das Gentes, na dicção poética de Manuel
Bandeira, por investigação eficiente nas modernas redes de comunicação de que
dispomos. E também, por que não dizer, com um bom disse-me-disse! Se fosse no
“tempo do cagar de coque”, como se falava outrora na minha terra, só depois do
trânsito de cartas e telegramas, é que recuperaria meu CPF e minha frequência
cardíaca costumeira: devagar, quase parando.
Foto do autor do autor.
Teresa adorou Essa passagem fajuta sua kkkk
ResponderExcluirAinda bem que não morri!
ExcluirQUE BOM QUE A NOTÍCIA ERA FALSA E VC PODE ESCREVER SOBRE ESSE PASSAMENTO FAKE
ResponderExcluirVivi para contar. Hahaha!
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