15 de julho de 2024

NOSCE TE IPSUM E CREIA UM POUCO MAIS EM SI MESMO

Vez em quando, recebo mensagens dessa coisa nomeada autoajuda, para que eu acredite mais e sempre em mim mesmo. Vêm elas normalmente com uma ilustração enjoadinha, dessas que não se penduram mais em paredes de casas humildes. Segundo se depreende de seu conteúdo, isso seria a chave do sucesso e da realização pessoal, o que me levaria a me lixar para a opinião alheia e me permitiria, inclusive, mandar os prováveis detratores à merda. E eu seria feliz e realizado. Bem simples, não é?

Aliás as redes sociais estão cheias desse tipo de boa vontade para comigo. A quantidade de pessoas altruístas na www é muito grande. Chega a ser comovente. A vida real está uma guerra, mas a virtual está repleta de bons propósitos, bem parecida com o inferno, cheio de boas intenções.  Todo mundo se sente no direito e na obrigação de me orientar pelos tortuosos caminhos da existência, dada minha fragilidade psicológica. Ainda que não me conheçam bem, nem saibam meu endereço e minhas condições de saúde.

Sinto-me muito agradecido, mas também fico um tanto cabreiro, desconfioso.

É que sou um mentiroso contumaz, um presepeiro de marca maior, um contador de vantagens mirabolantes, um arranjador de desculpas esfarrapadas para encobrir minhas faltas e omissões. Enfim, uma pessoa de baixa credibilidade no varejo e no atacado. Eu me conheço!

Assim não sei se devo acreditar em mim mesmo. Tenho sérias desconfianças a respeito.

A última vez em que acreditei em mim, por seguir tais orientações, entrei numa saia justa, numa fria. Prefiro nem comentar aqui, para que meus leitores não tenham frouxos de risos ou riam às bandeiras despregadas, como os leitores de Machado de Assis.

Aliás, não sei se já lhes disse, mas sou descendente do Bruxo do Cosme Velho – do que muito me orgulho –, em linha direta de minha mãe, pelo lado do Machado, e do meu pai pelo lado do Assis, embora o Machado tenha cortado o Assis do meu sobrenome. Não sei se o Bruxo, lá no Além, desconfia disso, mas não me faz a menor diferença sua indiferença.

Contudo eu também não creio muito nisso.

E, assim, de autodescrença (creio que esta palavra não exista) em autodescrença, vou tendo meu sucesso naquilo que não faço e me realizando pessoalmente, no meu imobilismo. No que, pessoalmente, não creio.

Sou um cidadão avesso a conselhos não solicitados. Deste modo, recalcitrante como sou, vou continuar a minha vida como sempre fiz até aqui: desacreditando mais que acreditando.

Agradecido!



Imagem em br.pinterest.com.

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