me permitam uma
história:
certa vez zé da farmácia
com sua frase atropelada
receitava a um reumático
uma nova injeção
que aplicada com jeitinho
impedia que o reumatismo
doesse mais que ela mesma.
e ainda gavava a ciência
que tinha feito a magia:
que enquanto doesse a dita
ninguém lembrava a doença.
outra vez a um neném
receitou supositório
supondo que a mãe zelosa
soubesse onde enfiá-lo.
como não tivesse resposta
disse: "introduza no
ânus"
ao que a mãe caipira
informou-lhe que o neném
"bem nem tinha oito
meis
que dirá já tê um
ano",
e vendo que a nossa língua
nem sempre é a do ouvinte
repetiu-lhe outra vez
piscando os olhos nervosos
mas a mãe não entendeu
e ele não vendo jeito
disse sem mais um falsete:
"é pôr no cuzinho
dele."
e quando o zé não curava
e se mandasse a doutor
podia o crente cuidoso
desconfiar de tal dor
pois se o zé tirava o
corpo
era melhor que o doente
cuidasse bem do que tinha
para não virar defunto
e receber de presente
vela terço e ladainha.
mas houve um dia que o zé
enjoou com tudo isso
xarope chá de carqueja
elixir e vitaminas
tosse pereba caxumba
em mulher velha e menina
em homem brabo e criança
até injeção na bunda
e resolveu pôr um fim
comprando uma fazenda
onde aplicou sua renda
obtida na farmácia.
e o povo de liberdade
que já não tinha saúde
do zé e da sua ciência
acabou foi com saudade.
e dou a história por
finda.

Antiga balança de farmácia (imagem em sp.olx.com.br).
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(Este poema foi composto em homenagem a José de
Rezende Ferraz,
o saudoso Zé da Farmácia,
"médico" de muitos de nós. Publicado originalmente em Gritos&Bochichos.)
Quanto farmacêutico e prático de farmácia por essas vilas, cidadezinhas, povoados desse nosso querido Brasil... de quanta gente, pelas mãos deles, sumiram as dores! As cidades cresceram... Drogarias sabonetes, desodorantes e shampoos: receita!... e os Zés da Farmácia, médicos nas horas mais difíceis, arquivados nas memórias daqueles que os conheceram: também tive o meu Zé da farmácia! Boa postagem, Saint-Clair. Um abraço.
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