1. Em Duque de Caxias, na
década de 60, um engraçadinho resolveu fazer a rifa de um porco para o Natal. A
extração ocorreria na semana anterior, o que daria tempo a que o vencedor
preparasse o suíno, com a arte necessária, para a ceia natalina.
Vendeu todos os bilhetes
antecipadamente, e, no dia da extração, apareceu à sua porta um grandalhão
mal-encarado com o bilhete agraciado no primeiro prêmio, condição básica para
levar o capado.
O homem pegou o bilhete,
conferiu e foi até o interior da casa. De lá voltou com um porquinho de
cerâmica, desses tipo cofre de moedas, e entregou ao feliz vencedor.
Foi morto com uma peixeira
bem na altura do coração, que é para não tentar fazer mais ninguém de bobo.
2. No município ao lado,
Nova Iguaçu, em terreiro concorrido, o pai de santo sempre incorporava um tal
Caboclo Mamadô, nas sessões de sexta-feira à noite. Como só mamasse os seios
novinhos da menina de quinze anos, filha de um nordestino arretado, foi
sangrado como um porco magro, com caboclo incorporado e tudo, e lá ficou
estrebuchando, enquanto o carregador da peixeira tentava fugir, embora tenha
sido contido pelos demais devotos de tão espiritual homem.
Na delegacia, explicou ao
delegado que havia reparado que o pai de santo só mamava nos seios da sua
filhinha, enquanto as muxibas das velhas expostas ao sacrifício santo ficavam
intactas.
3. Na minha Carabuçu dos
anos 50-60, circulava um cidadão que se dizia índio puri, alcunha por que era
identificado. Falava atropeladamente e vivia da caridade pública, ganhando um
dinheirinho aqui e ali, fazendo favores a uns e outros. Se não me falha a
memória, ele se apresentava assim: “Pedro Pereira Puri, nascido em Capiun,
criado em Capiun”. Capiun era o jeito esquisito de pronunciar Itaperuna. Pelo
que sei, já não havia mais índios puris por Itaperuna.
Um dos favores que, de vez
em quando se prestava a fazer, era comer uma barata viva diante de algumas
mulheres que conversassem distraidamente na calçada. Ele chegava com a barata
na mão fechada, cumprimentava as mulheres, abria a bocarra, jogava a nojenta lá
dentro e dava umas mastigadas de boca aberta – a barata sendo esmigalhada por
seus dentes –, para que fosse visto. Não é preciso dizer que a debandada era
geral, com gritos e xingamentos ao Puri.
Depois do serviço feito,
dirigia-se até o contratante e recebia, invariavelmente, uma nota de cinco
cruzeiros, daquelas antigas, com o Barão do Rio Branco estampado em uma das
faces.
Imagem em class.posot.com.br |
4. Jacy sumiu de Carabuçu.
Ele lá recebera o desonroso apelido de Vorta Égua. Na época, não se podia assim
chamá-lo, sem que briga certa fosse armada. Contudo, pelas costas, era desta
forma que era identificado, já que havia outros Jacys pela vila: Jacy Vorta
Égua.
E a razão do apelido é
ainda mais melancólica. Como na vila não houvesse a tal zona do meretrício –
vila pequena, de gente recatada –, com certa frequência uns e outros lançavam
mão da velha zoofilia, para atender “seus baixos instintos”, na fala do nosso capelão.
Certa noite, Jacy se dirige
ao pasto próximo, pega aquela égua sua velha conhecida, leva-a até o barranco
mais próximo e, quando está em ponto de bala para consumar o coito, a ingênua
equina se afasta candidamente do local, o que motiva o desesperado Jacy a
gritar no vão da noite estrelada de Carabuçu:
- Vorta, égua! Vorta,
égua!
Dezenas de anos depois,
vi-o a tomar cafezinho no extinto Monterey, na Rua Dom Manuel, próximo ao meu
trabalho, e não lhe dirigi a palavra, porque ele falava mal de Leonel Brizola,
político da minha admiração.
----------
Hahahahahahahahahahahahahahahahahahaha...
ResponderExcluirHistórias do interior, de gente do interior, do nosso país tão rico em diversidades... coisas que nos acompanham pela vida toda. Grande abraço Saint-Clair.
ResponderExcluirCarabuçu e as suas histórias... e a pena de Saint-Clair que tão bem as escreve! Para mim, são sempre espantosas!...
ResponderExcluir