(Para meu tio João de Assis Mello.)
Quando vim
ao Rio de Janeiro pela primeira vez, em janeiro de 1962, fiquei hospedado na
casa de meu tio João, irmão de meu pai, que era sócio de uma farmácia na Rua da
Passagem, em Botafogo. Sua moradia ocupava a parte de trás do imóvel, à qual se tinha acesso
por um portão lateral.
Cheguei bem
cedo. Pedro Nunes, amigo da família com quem viera, levou-me até lá e me deixou
diante do portão, com a recomendação de que esperasse um pouco, antes de tocar
a campainha.
O Rio de
Janeiro era uma cidade amigável e pacata, capaz de aceitar um adolescente
interiorano, com uma pequena mala, parado numa calçada àquela hora, sem que
ninguém o molestasse.
Depois de
uns dois dias de convivência, observei que meu tio não costumava beber água. Aliás,
nos dias que passei em sua casa e se não me falha a memória, não o vi tomando
um copo d’água sequer. E você, leitor incrédulo, há de me perguntar como então
ele se hidratava. E eu lhes respondo: com cerveja. Sobretudo com cerveja preta,
a de sua predileção.
Com frequência,
durante minha estada, ele me pedia para ir até o bar mais próximo comprar “uma
preta barriguda”. E eu voltava de lá com uma garrafa de Black Princess ou de
Triumpho, que ele tomava com grande prazer. E não havia refeição que não fosse
regada a cerveja.
E você,
leitor mais que incrédulo, irá perguntar o que foi feito desse meu tio, já que
deve saber que meu querido pai, seu irmão, faleceu em janeiro passado. Pois eu
lhe digo que ainda está entre nós, já dobrados os noventa anos, lá com as
mazelas próprias da idade, mas sem ter pagado preço exagerado por esse seu hábito
que, até onde eu saiba, durou até pouco tempo atrás.
Por isso é
que sempre tive em minha memória mais profunda a imagem de meu tio, sentado ao
lado de seu copo e da garrafa do líquido que sempre amou.
Tenho comigo
que tais cervejas deixaram de ser fabricadas durante algum tempo. A Black
Princess, no entanto, voltou ao mercado através do Grupo Petrópolis, com nova
embalagem e, tenho a impressão, com nova proposta, já que a concorrência hoje é
bem maior que à época.
Comprei,
então, no mercado duas garrafas: a escura Premium (tipo Lagger), a 4,8% de
álcool, e a clara, puro malte, Gold (tipo Pilsen), a 4,7%. Não me lembro do
preço que por elas paguei, porque vieram num pacote mais amplo.
Resolvi abrir
a escura, tanto em homenagem a ele, como também por certa predileção por esse
tipo de cerveja, sempre mais encorpada. Quem sabe este meu gosto não venha daí:
ter visto meu tio João sempre a bebê-la?
Não sei se
movido pelas lembranças ou por esse meu gosto, mas a cerveja escura Black
Princess desceu gostosa, suave, sem maiores sustos ao paladar, acompanhando um
nhoque que eu mesmo preparei. Depois, no sítio eletrônico da marca, pude
observar que este tipo de harmonização está lá recomendado. Acertei, sem
querer.
Estou para
visitar meu tio. Com certeza, vou puxar por sua memória para esses guardados
que tenho comigo.
Saúde, tio!
Imagem em pontobeer.com.br. |
Tin, tin... do lado de cá, a generosa Xingu. O que é bom a gente propaga mesmo de graça.
ResponderExcluirSaúde, amigo!
ExcluirAdoro cerveja preta! Vou beber uma ao almoço em homenagem a Saint-Clair e seu tio! Chim-chim!... À vossa saúde!
ResponderExcluirÀ nossa, Moreirinhas!
ExcluirSaint-Clair, grande homenagem ao papai! Seu texto me remeteu direto à nossa casa em Botafogo. Seu tio ainda está firme e será um prazer lhe receber em visita, com cerveja preta é claro. Abs
ResponderExcluirPrimo, fiquei emocionado com seu comentário. Vou ligar para uma visita. Bjs em todos.
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