(Para minha mãe, no seu aniversário.)
Minha mãe esculpiu a vida aos poucos
Sem pressaTateando entre as dificuldades dos tempos
: Quando não havia carne
Fazia angu
Fritava os lambaris que meu pai pescava
Contou os filhos aos cinco
Encarreirados os três primeirosAs duas últimas bem devagar
Minha mãe zelou a prole e o marido
Rezou por elesE ainda reza as orações que sabe de cor
E aquelas outras tantas que o coração lhe dita
Minha mãe é uma rocha em meio às vagas infindas
Que quebram à porta de casaE ameaçam sua plantação de gente
Espalhada por netos e bisnetos
Desde o mais galalau até o mais pequetito
Minha mãe está lá
No seu cantoSilente
Debulhando o terço entre os dedos cansados
Na esperança de que nenhum dos seus
Se perca da trilha da luz
O seu maior medo na vida
E está em paz porque sabe que cumpre sua lida
Desde antanho até entãoCom a tenacidade exigida aos determinados
E aos que não se entregam nunca
Porque a fé que a move é infinita
El Greco, Pietà, 1592 (em wikipaintings.org). |
Belo! Todos os bons poemas às mães, a mim, tocam-me profundamente!
ResponderExcluirAbraço