Cinco
dias por semana, Mundinho trabalhava duro: caixa de banco. Dois dias consumia
bebendo cachaça cerveja steinhaeger traçado de cinzano com conhaque de mel fogo
paulista chope vinho tinto martini seco rabo-de-galo creme de ovos catuaba com
jurubeba do norte genebra underberg com soda pau-pereira limãozinho bagaceira
vodka com crush rum com coca-cola campari arak pisco aquavit saquê, dentre
outras coisas. De tira-gosto: careta, cusparada, assopro, assovio, estralo de
língua, estralo de dedo, rodopio de corpo, muxoxo de preto-velho hum! hum! mizifio!,
grito de ajudante de bandido mexicano em películas da Pelmex iahuuuuuu! e um
diabo de arroto nojento, puxado das tripas, que ninguém suportava. À distância
recendia a alambique, tonel, chão de botequim. Não acendessem fósforo num raio
de três metros, sob pena de explodir. Ainda assim, nem ficava bêbado.
Nos
fins de semana, sempre pelas redondezas, entornando aqui e ali. Num domingo à
noite, final de expediente etílico, caiu na besteira de desembaraçar um arroto
caprichado, para arrematar tudo, na porta do bar do Jésus, um mosqueiro como
tantos outros. O dito cujo arroto foi tão indecente, mas tão indecente, que
Mundinho teve de sair correndo para não apanhar dos demais fregueses.
Chegando
à antiga pensão onde morava, no vinte e nove da Pereira da Silva, a língua em
forma de gravata colorida até o meio da barriga, só teve tempo de fechar a
porta e deixar seus perseguidores do lado de fora.
Se o
fígado tinha, até aquela altura, sustentado todas as suas estripulias, o medo
foi tão grande que o transformou em abstêmio. Fundou até os A. A. em Bom Jesus
do Itabapoana, entrou pros crentes e, hoje, o mais forte que bebe é café coado
em coador de pano, bem temperadinho no açúcar mascavo.
Imagem em daler.ru. |
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Publicado originalmente em Gritos&Bochichos.
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