18 de julho de 2017

O SENHOR ESTÁ DE MAU HUMOR HÁ MILÊNIOS


O bom humor do Criador durou até o episódio da maçã. O que, convenhamos, foi por muito pouco tempo! Após uma sentença de rito sumaríssimo, Ele determinou a um de seus oficiais de justiça, célebre por seu pavio curto,  executar a ação de despejo daquela dupla de inadimplentes. Daí para cá, foi uma sequência estarrecedora de punições, maldições, pragas, furacões, terremotos, dilúvios e o escambau. Quando percebeu que havia exagerado, mandou seu Filho como embaixador da boa vontade, da política da boa vizinhança, o qual, no entanto, também perdeu as estribeiras e andou metendo a gurumbumba no lombo de uns e outros que apenas queriam sobreviver à margem do governo, fazendo seus biscates, vendendo suas traquitanas. Mas aí o gênero humano já tinha virado genérico. E nunca mais deu certo.
Hoje, para tentar recuperar a desumanidade, tratamos com pachorrenta benevolência tudo quanto é tipo de bicho, mas nos esquecemos de outra parte substancial do gênero desumano que não tem nem o que comer. Não sei se isso dará certo. Se daqui a alguns anos estivermos prontos para viajar pelo espaço sideral como quem vai a Miracema e Bom Jesus, será, então, que levaremos nossos dessemelhantes humanos ou nossos semelhantes animais? Vi, por exemplo, em Paris, restaurantes que aceitam de bom grado a presença de bichos: Votre pet est bienvenu. Já, pobre, não sei bem se seria recebido com tanta sympathie, como dizem os descentes de Asterix, o gaulês.
E, depois de tanto tempo, parece mesmo que o Senhor nos deixou de lado. Cada um faz o que quer. Cada estado se arranja do jeito que as guerras e as cobiças permitem. Ele não está nem aí para o que sua criação anda fazendo. Até criação de galinha tem mais atenção. Senão, como explicar a duração do conflito entre judeus e árabes até hoje? Reparem que eles são primos – se não forem irmãos – e se digladiam ferozmente por uma terra seca, sem floresta, sem cachoeiras, sem praias paradisíacas – sem um bando de gente corrupta, também –, a qual, lá por volta de dois mil antes de Cristo, um visionário saído de Ur resolveu chamar de Terra Prometida.
O que pode explicar tudo isso, isto é, ser a Terra Prometida aquele areal em torno de uma lagoa de águas mortas, só pode já ter sido a má vontade e o péssimo humor do Criador para com a criatura. Caso contrário, ele teria prometido os verdes campos da Toscana, a aprazível Provença, ou mesmo a costa baiana cheia de resorts de luxo e coqueiros onde pendurar uma rede.
E, pelo que sinto hoje da Natureza – delegada imediata Dele junto ao genérico humano –, posso dizer que não adianta ficarem inventado religiões, a três por quatro, que os Seus maus bofes não se aplacaram e só tendem a piorar. Terremotos, tsunamis, destrambelhamento geral do tempo e do placar de jogo estão aí para não me deixarem mentir.
Quem sobreviver verá!

Imagem relacionada
Hans Memling, O juízo final; séc. XV (sauvage27.blogspot.com.br).

Um comentário: