Não vou
descrever o paladar, para que você não fique aguado, como dizemos lá, sempre
que não se pode provar de algo delicioso. Não cometerei esta descortesia com
você. Mas saiba que seja ela, talvez, a mais saborosa das jabuticabas que
chupei na vida. E olhe que minha vida já desce desgovernada pelas corredeiras
do rio, indo de encontro à cachoeira logo ali.
Quanto ao
paladar, confesso, não sou pessoa saudosista. Aprendi há algum tempo que este
sentido humano só está maduro aos vinte e cinco anos. Portanto tudo que provei
até essa idade, pode ter sido sentido com os defeitos próprios da imaturidade
gustativa.
Inclusive até
comentei aqui sobre os sabores da infância, quando, num papo com meu saudoso
pai, lhe dizia, por exemplo, que as mangas de hoje não têm mais o mesmo paladar
das de outrora, quando eu era menino. Com a sabedoria que os pais acumulam pela
vida, ele me disse que o paladar da manga não havia mudado, o que mudara era o paladar
do menino.
E isto foi
uma excelente dica para que eu me livrasse desse tipo de preconceito com as
coisas da cidade grande, as novidades, sobretudo aquelas relativas a este ato
tão comezinho e agradável, que é o comer.
Por isso é
que, anteontem, estava eu na casa de minha mãe, em Bom Jesus do Norte, e
rebatia o argumento do paladar do passado, relativamente à manga, dizendo que a
mais saborosa que experimentei até hoje foi a manga Palmer, novidade que
conheci há pouco mais de cinco anos.
Meu irmão e
minha cunhada não acreditaram muito em mim e tentaram recuperar, por uma
argumentação saudosista, o sabor da manga espada de nossas vidas. Mas lhes garanti
que a da Palmer é superior. E descasquei uma, ainda não muito madura, das que
levara para minha mãe, a fim de comprovar meu argumento. E, ainda que ela não
estivesse no ponto ideal de consumo, eles puderam provar o gosto inigualável
desta manga.
Outra novidade
maravilhosa, descoberta também recente, é a atemoia, fruta da família da pinha
(fruta-do-conde), produto do cruzamento da cherimoia, originária do Peru, com a
pinha.
A atemoia
tem paladar bem mais marcante que a pinha, muito mais polpa e sementes maiores,
porém em número mais reduzido. Seu teor de doçura ultrapassa em muito a própria
pinha. A cherimoia me é totalmente desconhecida.
Contudo outra
novidade – e esta não entendo –, que me deixa politicamente grilado, é a laranja-baía importada dos Estados Unidos,
que está tomando o lugar da nossa, nas gôndolas de supermercados e quitandas.
É uma
laranja com a casca mais alaranjada, extremamente suculenta, sem caroço, como a
nossa, e com o umbigo mais desenvolvido, em forma mesmo de uma pequenina
laranja. O paladar é um pouco menos ácido que a nossa.
Confesso que
tenho comprado desta, na falta da nacional, e não desgosto. No entanto o
equilíbrio do sabor doce-azedo do produto brasileiro, que tende mais ao azedo,
é mais instigante ao meu paladar, sempre disposto a viver perigosamente.
Tenho adquirido
esta laranja eminentemente nossa, porém importada dos EUA, mas o faço com certo
pudor nacionalista (eu e esse meu antigo vezo universitário 68). Mas, para mim,
é muito difícil passar por uma gôndola cheia delas e me fazer de indiferente. É
a minha laranja favorita.
Agora, vou parar
de chupar as jabuticabas – e encerrar este papo –. Elas têm uma péssima fama:
dão prisão de ventre. Na verdade, isto nunca me aconteceu. Mas é bom prevenir. E,
depois, guardo mais algumas para logo mais. Vou chupá-las pensando em você
leitor, que desafortunadamente não está aqui para provar.
De facto, a diversidade de belíssimos frutos que vocês têm é invejável!
ResponderExcluirNo meu jardim, digo, no jardim de Daisy, que ela é que trata dele, temos 4 tipos diferentes de laranjas e todas de muito boa qualidade. Até temos uma laranjeira anã, com laranjas de 2cm de diâmetro, mas essas são azedas como o diabo!...
Jaluticaba nunca provei... parecem pérolas!
A jabuticaba, além de ser fruta saborosa, dá um licor primoroso de sua casca. Ela é um pequeno balão negro que, ao ser mordido, estoura em nossa boca com o sabor da polpa de consistência suave. Geladinha, então...
ExcluirTodas as outras, sim! Essa fruta nunca apareceu à venda por cá!
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