Notei que
ele falava isso como algo estranho à sua vida, à sua idade. Como se tivesse
sido usado, à sua revelia, como outdoor
ambulante para a propaganda ideológica do coroa.
E dei
risadas disso.
Tempos
depois, ao lanchar com meu filho, mais velho que o jovem vizinho, contei-lhe sobre
a prática desse pai. E meu filho teve a audácia de me jogar na cara a
interdição que impus a ele e à sua irmã de comerem sanduíches do McDonald’s.
Durante toda
a sua infância e juventude, jamais os levei a comerem a fast food ianque. E justificava minha posição
ideológico-gastronômica, para aquelas cabecinhas perplexas, de que não se
poderia, em sã consciência, pagar royalties
para comer um reles sanduíche com batata fritas, com a carne, o pão e a batata
produzidos aqui.
Recordo-me
de que lhes dizia que já pagávamos dólares demais por produtos de que não
podíamos abrir mão no dia a dia, como cremes dentais, sabonetes, sabões em pó,
remédios, etc.. Em algo tão simples como um lanche, deveríamos evitar isto.
Claro que
minha posição era reflexo de tudo o que aprendi e vivi durante os tempos
universitários. Na época, devido às circunstâncias por que passava o Brasil,
mergulhado numa ditadura, desenvolvemos um horror a tudo que se referisse ao
Grande Irmão do Norte, com seus tentáculos econômicos, culturais e políticos, a
se espalharem por todo o mundo. Eu me sentia na obrigação de resistir e passar
isso para meus filhos.
E íamos
comer na lanchonete Cupim, empresa concorrente, com os pés fincados nas montanhas
de Minas Gerais. Eles nunca reclamaram comigo. Pareciam mesmo entender as minhas
razões nacionalistas e antiamericanas. E se lambuzavam com os molhos do Cupim.
Pois não é
que no momento em que lanchávamos – ele, minha nora, meus netos, minha mulher e
eu – no McDonald’s de Vitória, no início do último dezembro, ele trouxe à tona
essa minha esquisitice, que contou com um sorriso um tanto irônico, como a
repetir a mesma visão do meu jovem vizinho sobre o pai.
Os pais às
vezes são mesmo esquisitos com suas crenças, suas ideologias.
E foi a
primeira vez que comi um sanduba com a marca McDonald’s. Quero dizer-lhes que
talvez tenha sido também a última. Pelo menos, vou tentar resistir.
Confesso que
o do Cupim era bem melhor!
E também
aproveito a oportunidade, para repetir aqui pichação que apareceu, há alguns
anos, em paredes país afora: “Halloween é o cacete! Viva a cultura nacional!”.
Imagem em saladaverde.com.br. |
Pois é...Tudo muda.
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