(Para os amigos Marina e Adilson Dutra.)
Fiz uma viagem ao passado no
mês de dezembro. Aproveitei o convite dos amigos Marina e Adilson Dutra e
voltei a Campos dos Goytacazes com a Jane, para rever velhos espaços de
outrora, quando lá estudei no meu primeiro ano ginasial. Era 1960, por aquela
época.
Adilson me fez a gentileza
de agendar visita à minha antiga escola, o Colégio Bittencourt, situado na Rua
Gil de Góis, próximo ao Jardim do Liceu.
Eu chegara ao colégio em
março daquele ano, para iniciar o Curso Ginasial. Chovia fino e fazia um certo
frio, mesmo para aquele mês. Por aquela altura, o calor não era tão intenso
quanto hoje, ou, criança ainda, não me dava conta disso. Foram comigo os amigos e conterrâneos Augusto Pereira e Adilson Soares, este já falecido. Eles iriam para o terceiro ano e eram,
portanto, velhos alunos do internato, que me guiariam e cuidariam de mim como
irmãos mais velhos. Eu, apenas um calouro espantado com a novidade, sem,
contudo, temer a experiência. Não havia trote. Os mais velhos recebiam os mais
novos com a indiferença comum por então.
Lembro-me bem de que, após
ter ido com minha mãe e nosso tio Nalim até as papelarias da cidade – À
Normalista e Ao Livro Verde – comprar o material didático, entrei na posse do
meu espaço no colégio. Fui conhecer o dormitório dos menores, a minha cama, as
regras de conduta, os monitores de disciplina que velariam pela boa ordem no
espaço interno, e as dependências do educandário.
E, no momento da despedida, quando
vi minha mãe sair pelo portão principal, reunido com outros alunos sobre a laje
de uma construção em frente à quadra, disse-me o Adilson:
- Pode chorar, Saint-Clair.
Aqui todos choram nesta hora.
Aproveitei a chuva fina de
março, para também derramar algumas lágrimas, que cessaram daí a pouco.
Pois agora, em dezembro do último ano, estava de volta e pude constatar que alguns desses espaços permaneciam os
mesmos, como a antiga quadra de esportes, ainda descoberta, logo à direita de
quem entra. Naqueles poucos degraus de uma arquibancada acanhada, nas tardes de
sábado, lia para os colegas de internato. Manuel Joaquim, também mais velho do
que eu, resolveu que eu era bom leitor, e um grupo ficava a ouvir a narrativa de
textos condensados de Seleções do Reader’s Digest, cujo volume tomávamos
emprestado à biblioteca do diretório acadêmico, localizado no prédio de dois
andares, no fundo do terreno, ainda lá e próximo à casa em que morava o doutor José, um
dos diretores da escola. Apesar da carranca de durão com as indisciplinas de uns e outros, ele permitia que os amantes de futebol vissem os jogos do campeonato carioca em seu
novo televisor preto e branco. Por diversas vezes, estive sentado no chão da sala a acompanhar as partidas.
Ainda está lá a velha sala
de aula, com as carteiras na posição invertida. Parei um instante diante dela e
troquei dois dedos de prosa com a professora que atendia um grupo de miúdos.
Por todas as salas em que passei, algumas inexistentes à época, vi crianças
ainda bem pequenas, na fase da pré-escola, a enfeitá-las com suas carinhas
interessadas, seus brinquedos corporais, seus sorrisos receptivos. Numa delas,
em que falei para os pequenos que eu também já havia sido aluno ali como
eles, dois aluninhos arregalaram os olhos incrédulos. Devem ter pensado em como
um velho como eu teria sido aluno dali. Inacreditável!
No meio do pátio, soberba de muitos anos, está a mesma mangueira, cujos frutos não chegavam a amadurecer à época, pois os devorávamos antes, ainda verdes, com sal, à espera do almoço de sábado, chamado ajantarado, por sair um pouco mais tarde. O paladar azedo e salgado da manga agravava o apetite daquele bando de adolescentes vorazes.
No meio do pátio, soberba de muitos anos, está a mesma mangueira, cujos frutos não chegavam a amadurecer à época, pois os devorávamos antes, ainda verdes, com sal, à espera do almoço de sábado, chamado ajantarado, por sair um pouco mais tarde. O paladar azedo e salgado da manga agravava o apetite daquele bando de adolescentes vorazes.
E não pude deixar de lembrar de alguns dos meus contemporâneos de internato, dentre aqueles que a memória guardou com maior precisão, além de Augusto e Adilson: Rubens e
Roberto Neiva, Floriano, Fernando, Zé Pimentão, Nilson, Carlinhos Gordo, Gil,
Laerte, Rubens Galaxe, Ari Tijolo, Chiquinho, Newton, Manuel Joaquim, Osni; os monitores Nei, Paulinho, Lúcio de
Lauro, seu Alair, e o chefe de todos, o Badô, que era capaz de reunir em si qualidades aparentemente conflitantes: era, ao mesmo tempo, severo, justo e camarada conosco.
Após o percurso por vários
desses espaços, alguns novos, outros do mesmo tempo em que lá estive, fomos
recebidos pelo atual diretor, Guilherme, filho de dona Maria José, minha
primeira professora de Latim, esposa do professor Delamar e irmã dos também professores Mário, José e Clóvis, da
mesma família de educadores responsáveis por aquela escola centenária, fundada
em 1914 pelo velho professor Mário Bittencourt.
Ao final do encontro, ganhei
de recordação o opúsculo “O centenário do Colégio Bittencourt”, em que se
registra a história da família, desde o mais remoto Bittencourt, na França, até
os dias atuais.
Confesso que fiquei tão
feliz, que nem deu tempo de minar água nos olhos, fato, aliás, muito comum
nesta minha sentimental pessoa.
Amigo. Em 1962, fiz um concurso para bolsa de estudos, e fui classificado, junto com a Maria Helena para o Bittencout de Campos. Irmão Ébio, foi fazer minha matricul.a no internato. Ocorre, que tinha que adiantar uma 'jóia' de 2000 cruzeiros (dinheiro que a família não dispunha). O diretor disse que isso a bolsa não contemplava! Assim, com a criação do Ginásio em Carabuçu, passei a estudar lá, até a 'expulsão!' para Itaperuna. Aqui estou até hoje, sempre 'revolucionário', ou como diziam: 'Anarquista!'. Então... anarquista, graças a Deus! Rss,
ResponderExcluirTambém fui pra lá a poder de bolsa da Campanha Nacional de Bolsas de Estudo. Devemos ter feito o mesmo concurso. Quando voltei para Bom Jesus, por impossibilidade de complementar o valor, fui para o Colégio Coronel Antônio Honório, em Bom Jesus do Norte.
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