24 de dezembro de 2012

PAPAI NOEL EXISTE

Durante os primeiros anos de minha vida acreditei em Papai Noel, como qualquer criança. Contudo minha crença era tão convicta, que cheguei a apostar com meu amigo Laércio sobre a existência do Bom Velhinho.
Não me lembro de quantos anos tinha. Laércio era meu amigo de infância e apenas um pouco mais velho do que eu, porém extremamente menos ingênuo.
Talvez eu tenha sido ingênuo por anos em excesso. A ingenuidade é adequada até os sete anos, mais ou menos. Daí em diante, passa a ser um defeito. Acho que carreguei esse defeito longe demais.
Mas, naquela época, quase fui desencantado por Laércio sobre a existência de Papai Noel. Ele bem que tentou.
Ora, o Velhinho batia o ponto regularmente em nossos natais – meu e de meus irmãos Guth e Eliza – com os presentinhos que uma família pobre do interior podia dar. Nós, então, não tínhamos o direito de desconfiar de nada. E, além disso, não fazíamos comparações do que ganhávamos com os presentes de outras crianças, o que poderia colocar em cheque a justeza do Papai Noel. E, daí, sua existência.
O Natal estava chegando e, por certo, comentei com Laércio algo relacionado, numa noite quente. Estávamos na rua, em frente ao bar do tio Tônio.
Toda criança mais velha, que já não acredita, parece ter o perverso desejo de informar ao mais novo que essa história de Papai Noel é uma grande lorota dos adultos para nos enganar.
Lembro-me de que discuti com ele, afirmando exatamente o contrário. Até que cheguei ao ponto de apostar um pé de moleque.
O pé de moleque era a única coisa valiosa de que eu podia dispor então. Minha mãe o fazia para vender no pequeno armazém de meu pai, que, na vila, chamávamos de venda.  E nos dirigimos até lá, para que meu pai desse a palavra final, o veredicto incontestável e irrecorrível.
Papai, do lado de dentro do balcão, foi então questionado por mim:
- Papai, não é verdade que Papai Noel existe?
E meu pai respondeu afirmativamente. Então expliquei a ele que fizera uma aposta com Laércio, valendo um pé de moleque. Óbvio que Laércio não me iria pagar. Eu podia comer o doce gratuitamente.
A vida continuou rolando, e não me lembro de quando deixei de acreditar nesse mito natalino. Com certeza, foi algo muito natural, pois não tenho o trauma da revelação, tão comum a muitas pessoas. Simplesmente deve ter acontecido.
Tempos depois, recordei esta história a meu pai e perguntei a ele como o Laércio aceitou a resposta dele, sem retrucar. Ele me disse, então, que, sem que eu percebesse, piscou o olho para o meu amigo e, tão logo me distraí, deu-lhe o pé de moleque da aposta. Eu perdera, mas também não soube na época. Foram mantidos dois segredos num só.
Mas, ainda mais um vez naquele Natal, engraxei os sapatos, como eu e meus irmãos fazíamos, e os coloquei sobre a máquina de costura de minha mãe, que estava arrumada com uma pequena toalha bordada, para a ocasião.
Na manhã do dia 25, lá estava o presente aguardado durante todo o ano. O único que crianças da nossa vila ganhavam: o presente do Papai Noel.
Ele não poderia deixar sua existência em dúvida!

Imagem em pt.dreamstime.com.

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