15 de novembro de 2011

A MAGIA DA ARTE DE ANTÔNIO ROCHA

Antônio Rocha foi convidado, pela coordenadora Benita Prieto, a participar do Simpósio Internacional de Contadores de História 2011, apresentado no SESC Copacabana, entre os dias 9 e 13 de novembro, em que ministrou cursos e se apresentou na abertura da maratona de vinte e quatro horas, das 18 horas do sábado às 18 deste domingo, de contação de histórias, como está na moda dizer, como grand finale do encontro, que se vem repetindo há alguns anos.

Você não sabe quem é Antônio Rocha? Que pena!
Capa do dvd de Antônio Rocha
(imagem em http://www.storyinmotion.com/).
Por uma série de fatores históricos e acasos, fui até lá com minha mulher Jane, e saímos encantados com a magia com que Antônio Rocha conta histórias, com e sem palavras. Aliás, não só nós, mas todos os que ali estávamos. Ele foi ovacionado ao final de sua apresentação.
Antônio Rocha é um artista brasileiro, natural de Miracema, terra de minha mulher, que é amiga de toda a sua família e o conhece desde criança. Por intermédio dela, também conheço toda ela. Porém Antônio Rocha, ou simplesmente Júnior para os mais próximos, já que ele é o filho caçula de uma prole eminentemente feminina – são quatro irmãs mais velhas – e recebeu o nome do pai, não víamos desde que era um adolescente magrelo, comprido e tímido.
Todavia, como timidez não impede vontade e talento, Antônio foi para os Estados Unidos em 1988, a fim de aprimorar sua arte. Hoje ele é ator, mímico e contador de histórias já consagrado no exterior, com agenda lotada para espetáculos em vários países. Mas, infelizmente, fixou residência lá, onde está já há vinte e oito anos, produziu dvds e recentemente reescreveu o conto folclórico Uma história no céu em inglês e em português. E consta, em sua história profissional, apresentação feita para a turma da filha do presidente Barak Obama, na escola que ela frequenta.
Antônio tem o domínio completo de sua arte. De início, começou contando, por palavras e gestual, O filho de Mussa, história do folclore africano que narra a iniciação do filho de um chefe tribal, levado por seu pai ao deserto para a prova definitiva, a fim de testar sua capacidade de, um dia, tornar-se também chefe. As variações de voz, as nuances de entonação e timbre, a incorporação do velho chefe, um tanto alquebrado, que porta seu cajado, a máscara facial do jovem durante a difícil prova a que se submete, nada disto fica sem o toque magistral do ator.
Em seguida, mostra sua habilidade como mímico, discípulo que foi de Tony Montanaro, responsável maior por toda sua formação na área, embora tenha também feito um curso rápido com Marcel Marceau, numa das vezes em que o mestre francês esteve nos EUA. A história da transformação da lagarta em borboleta não leva cinco minutos, mas encanta pela sofisticação e a poesia dos gestos.

Na sequência, conta com palavras e expressão corporal extremamente criativa a antiga história do folclore brasileiro O veado e onça, aquela em que os dois resolvem fazer uma casa, na margem de um rio, e, cada um a seu turno, sem saber do trabalho do outro, vai fazendo a casa e achando um milagre de Tupã o progresso da obra. A alternância na representação da onça e do veado foi, ao mesmo tempo, precisa e cheia de bom humor, com sugestões muito sutis do que, em nossa cultura, atribuímos a um e outro bicho.
Após, interpreta, também por mímica, uma história de terror clássica: o cidadão que se vê na contingência de entrar numa casa mal-assombrada, porque seu carro sofreu uma pane na estrada deserta. Esta história, que ele “escreveu” há cerca de quinze anos, se não me falha a memória, tem todas as peripécias por que passa o personagem, ao entrar num ambiente escuro, desconhecido, fantasmagórico, com portas que rangem; escuridão que se tenta vencer a poder de vela, archote, lanterna; calabouço que se abre; paredes movediças, ratos e cadáveres. Tudo isto traduzido em gestos, em expressão corporal e na expressão facial necessários a que a plateia acompanhe, entenda, sinta medo e, ao final, aplauda estrepitosamente o desempenho do artista. De todo o rico repertório de recursos de Antônio, chamaram, sobretudo, a atenção de todos a representação do eco e a lanterna problemática que teimava em não funcionar bem.
Ao final, para coroar sua saída, compõe pequena peça cheia de lirismo: enche com a boca uma hipotética grande bola de soprar, que o “eleva” do chão e o conduz suavemente para fora do palco, sob o aplauso de pé de toda a plateia.
Terminada a apresentação consagradora em seu país natal, saímos, em companhia de sua irmã, seu cunhado e diversos amigos, para jantar, conversar e saber das novidades da vida daquele menino magro, comprido e tímido, o Júnior, que saiu de Miracema para ganhar o mundo com sua arte mágica, como Antônio Rocha.
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Para mais informações, veja seu sítio na Internet: http://www.storyinmotion.com/ .

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