8 de janeiro de 2025

TERCEIRA IDADE

Pela manhã 
O velho vê-se ao espelho. 
As sobrancelhas sobre os olhos míopes 
Lançam pelos aleatórios 
Em direções atópicas. 
Apara os pelos brancos das narinas, 
Rapa a barba rala 
Como a caatinga 
Que suja sua cara 
Com tufos bem antigos, 
Ajeita os parcos cabelos 
Que ainda sobrevivem distraídos 
Do mais restante do corpo, 
Passa o desodorante novo 
E vai para o calçadão da praia 
Andar com passos trôpegos 
Esbarrando nas pessoas 
Que caminham alheias, 
Inalando a maresia que sobe do mar 
E olhando os corpos jovens 
Das mulheres que se bronzeiam 
Sobre a areia. 
Volta para casa 
Sorve um copo d’água 
Toma um café amargo 
E sente recarregada sua bateria 
Para um dia novo.

Praia de Icaraí (foto do autor)